Durante a fase fértil da mulher, que inicia após a primeira menstruação ou menarca, diversas
doenças femininas podem interferir na capacidade reprodutiva.
Cada uma manifesta sintomas específicos e, em algumas, muitas vezes eles são bastante
parecidos, ou mesmo se confundem com manifestações características do período menstrual.
Dificultando, dessa forma o diagnóstico precoce, resultando no avanço da doença e em
maiores danos ao sistema reprodutor feminino.
Por isso, é importante ficar atenta a qualquer sinal do corpo. Os sintomas são um importante
alerta de que algo não vai bem, indicando a necessidade de procurar auxílio médico.
Este texto aborda os sintomas de endometriose, considerada a doença mais prevalente na
mulher moderna. Continue a leitura até o final, conheça melhor a endometriose e os
principais sintomas que ajudam a identificá-la precocemente.
Conheça melhor a endometriose e os tipos da doença
Inflamatória e crônica, a endometriose tem como característica o crescimento anormal de
um tecido semelhante ao endométrio, que reveste internamente o útero, fora do órgão.
O endométrio é um tecido epitelial altamente vascularizado cujos receptores reagem aos
hormônios femininos estrogênio e progesterona, tornando-se mais espesso para receber o
embrião: nele ocorre a implantação ou fixação do embrião, iniciando a gestação. Quando não
há fecundação, descama, originando a menstruação e um novo ciclo.
Ainda que as causas de endometriose permaneçam desconhecida até hoje, entre as teorias
que surgiram para a explicar a doença uma é a mais aceita, a da menstruação retrógada.
Segundo ela, os fragmentos do endométrio naturalmente eliminados durante a menstruação,
retornam pelas tubas uterinas e implantam em outros locais.
O tecido anormal geralmente implanta primeiro no peritônio, membrana que recobre a
superfície dos órgão pélvicos, atingindo os mais próximos ao útero, como os ovários, as tubas
uterinas e os ligamentos uterossacros, que sustentam o órgão, colo uterino ou canal vaginal.
No entanto, as células endometriais podem, ainda, ser transportadas pela corrente sanguínea
para estruturas mais distantes, entre elas, a bexiga e o intestino, por exemplo, estão entre as
mais frequentemente afetadas.
Os três principais tipos de endometriose são a peritoneal superficial, a ovariana e a
infiltrativa profunda. Cada um possui uma característica diferente:
Endometriose peritoneal: na endometriose peritoneal superficial, como o nome
sugere, os focos da doença estão localizados apenas no peritônio e as lesões ainda são
rasas e planas;
Endometriose ovariana: na endometriose ovariana geralmente se formam
endometriomas, um tipo de cisto ovariano composto por tecido endometrial e sangue,
além de aderências isoladas e menos densas;
Endometriose infiltrativa profunda: nesse tipo de endometriose os implantes já
invadiram diversas regiões ao mesmo tempo e, além de muitos, são mais profundos,
ao mesmo tempo que aderências mais densas também estão presentes. Mulheres com
endometriose infiltrativa normalmente também possuem os outros dois tipos. Ou
seja, lesões mais rasas e endometriomas.
A endometriose é uma doença estrogênio-dependente. A dependência desse hormônio
significa que o tecido anormal também reage à sua ação durante os ciclos menstruais,
resultando, assim, no desenvolvimento da doença, que ocorre lentamente.
Por desenvolver-se lentamente a endometriose nem sempre causa sintomas nos estágios
iniciais, entretanto, isso não é regra. A intensidade também pode variar em pacientes com o
mesmo tipo, assim como as manifestações podem ser diferentes.
Principais sintomas de endometriose
Os dois principais sintomas de endometriose são dor e irregularidades menstruais. Como o
tecido ectópico reage à ação do estrogênio, pode sangrar a cada ciclo menstrual e provocar
cólicas mais severas, antes e durante a menstruação, e o aumento do fluxo menstrual.
Também pode haver dor na região abdominal se os endometriomas romperem, geralmente é
mais intensa, aguda e pulsante, localizada em um dos lados. Nesse caso, é preciso buscar
atendimento médico com urgência.
A dor pode manifestar, ainda, durante a relação sexual, condição conhecida como dispareunia.
Esse tipo de dor ocorre quando os focos de endometriose estão próximos ao canal vaginal ou
colo uterino.
Se os implantes estiverem presentes na bexiga ou intestino, tendem a causar alterações nos
hábitos, como micção frequente e constipação cíclica. Nos dois casos pode haver presença de
sangue.
Embora essas manifestações sejam mais severas em algumas mulheres, impactando a
qualidade de vida e interferindo nas relações pessoais ou profissionais, o sintoma mais grave
de endometriose é a infertilidade.
As alterações são provocadas pelo processo inflamatório característico da doença,
consequência da presença do tecido anormal, que produz citocinas pró-inflamatórias chamadas
prostaglandinas. Ou seja, podem acontecer em qualquer tipo de endometriose, embora,
como outros sintomas, não sejam regra.
As prostaglandinas podem afetar a fertilidade mesmo quando as lesões são mais rasas.
Comprometem, por exemplo, o processo de desenvolvimento, amadurecimento e rompimento
do folículo, resultando em ausência de ovulação e, assim, de fecundação.
Ou a qualidade dos gametas (óvulos e espermatozoides) e dos embriões formados pela fusão
deles, o que leva a falhas na implantação do embrião e abortamento. Falhas e abortamento
podem resultar, ainda, de interferências do processo inflamatório no ciclo endometrial,
causando alterações na receptividade endometrial, fundamental para a implantação ser bem-
sucedida.
Os endometriomas, por outro lado, podem causar a diminuição da reserva ovariana,
quantidade de folículos presentes nos ovários, resultando em distúrbios de ovulação, ou da
qualidade dos óvulos. Dessa forma não há fecundação, assim como os embriões formados com
óvulos de má qualidade geralmente não conseguem implantar.
Quando a doença já infiltrou e há a presença de múltiplos implantes, normalmente profundos,
as prostaglandinas causam a formação de aderências: nos ovários interferem na liberação do
óvulo e, nas tubas uterinas, a captação dele, impedindo a fecundação.
As aderências podem, ainda, causar distorção na anatomia do útero ou na cavidade pélvica,
dificultando o desenvolvimento e sustentação da gravidez.
Por essas manifestações a endometriose tem sido considerada a principal causa de
infertilidade feminina e a sua alta incidência, justificada pela tendência atual de adiar os planos
de gravidez, o que deixa a mulher exposta por mais tempo à ação do estrogênio.
Diagnóstico, tratamento e reprodução assistida
As características heterogêneas da endometriose a tornam uma doença complexa e de difícil
diagnóstico, principalmente quando a doença ainda está nos estágios iniciais e não manifesta
sintomas.
Se houver suspeita de endometriose, atualmente, com os avanços das técnicas diagnósticas,
o primeiro exame realizado é a ultrassonografia com preparo intestinal, particularmente
indicada para detectar a doença, independentemente do estágio de desenvolvimento.
Para definir a abordagem terapêutica mais adequada a cada paciente, outros exames de
imagem complementares podem, ainda, ser solicitados, incluindo a ressonância magnética
(RMI), que possibilita a identificação de todos os focos da doença.
Se a mulher desejar engravidar a conduta pode ser cirúrgica ou por técnicas de reprodução
assistida, de acordo com cada caso.
As técnicas de reprodução assistida, entretanto, possibilitam o tratamento de endometriose
em todos os estágios de desenvolvimento, inclusive quando há a presença de endometriomas, cujo procedimento cirúrgico pode provocar danos permanentes à reserva ovariana.
A endometriose em estágios iniciais, se não houver comprometimento da função tubária,
podem ser tratadas pelas técnicas de menor complexidade, que preveem a fecundação de
forma natural, nas tubas uterinas: relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial
(IA).
Já em estágios mais avançados, o tratamento é realizado por FIV, técnica mais complexa na
qual a fecundação ocorre em laboratório, de forma artificial.
Na FIV é possível selecionar óvulos e embriões de melhor qualidade, minimizando as chances de possíveis falhas na implantação. Os embriões após serem cultivados por alguns dias, são
transferidos para o útero, ou seja, as tubas uterinas não participam do processo, permitindo
tratamento quando há obstruções como consequência de aderências.
Todas elas, entretanto, aumentam as chances de mulheres com endometriose engravidarem.
Comments